Primeiro Cinema, Georges Méliès e Hugo Cabret
Olá! Sejam muito bem-vindxs mais uma vez ao A Tela Que Habito! No primeiro episódio do podcast (se não ouviu ainda, corre lá!), contamos um pouco mais sobre o surgimento do Cinema e como ele rapidamente se transformou numa fábrica de capturar sonhos; discutimos a importância do cineasta Georges Méliès para a Sétima Arte e falamos um pouco sobre o filme A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorsese. Agora, vamos repassar e aprofundar um pouquinho mais tudo que foi discutido neste episódio. Vamos lá?
Ben Kinsgley como Georges Méliès em A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorsese
O Cinema pode ser visto como um simulacro da realidade? Acreditamos que sim, também. Mas pode ir muito além disso. Desde a Pré-História apresentamos a necessidade em retratar a realidade, necessidade essa que vai evoluindo em novas formas de arte, levando também à criação de novas representações da realidade de acordo com o que queremos expressar. Na História da Arte – e nosso objetivo aqui é fazer apenas um recorte e não adentrar muito no assunto -, começamos a representar nossa realidade em imagens através das pinturas rupestres: animais, homens e mulheres, ferramentas... Cenas do cotidiano retratadas em pinturas feitas nas paredes de cavernas.
Figuras de animais pintadas em tempos pré-históricos na caverna de Lascaux, França
Mas não paramos por aí. Fomos aprimorando cada vez mais nossas habilidades de representação em imagens, muitas vezes em busca de realismo. Mesmo nas pinturas com seres imaginários, com anjos e demônios, como vemos na pintura Renascentista, conseguimos identificar claramente uma total preocupação em retratar as figuras – inspiradas em seres humanos, flora e fauna -, da forma mais realística possível, com cada músculo do corpo humano detalhadamente desenhado, cada fio de cabelo, movimento de tecidos, detalhes de objetos etc.
À medida que os séculos vão passando e as artes evoluindo cada vez mais, começamos a não querer mais nos limitar só ao realismo e começamos a expressar outras realidades possíveis e emoções, de forma diversa, como é o caso do Impressionismo e do Cubismo, por exemplo. Quase como se fosse uma releitura da realidade que se quer expressar, de acordo com cada artista e sua visão de mundo.
Guernica (1937), de Pablo Picasso
Ainda assim, não desistimos por completo das representações realistas e, na busca de “capturar” a realidade da forma mais fiel possível, das pinturas passamos à fotografia. A fotografia não era mais a representação de uma pessoa, por exemplo. Era a própria imagem da pessoa, capturada em película e impressa em papel. A invenção era tão fantástica que muitas pessoas acreditavam que as fotografias capturavam mais que as imagens das pessoas: capturavam também suas almas.
Após a captura da imagem estática, por que não em movimento? A primeira exibição cinematográfica foi realizada no dia 28 de dezembro de 1895, pelos Irmãos Lumière. O nome do filme é “A Saída de Operários da Fábrica” e mostra exatamente isso: trabalhadores saindo pelos portões de uma fábrica. Nesse primeiro momento os filmes eram bastante curtos, durando poucos segundos ou minutos. Não apresentavam ainda uma estrutura narrativa eficiente, ou seja, ainda não contavam histórias. O enfoque recaía sobre as imagens em movimento; pequenas cenas do dia-a-dia (como nas pinturas rupestres) e, mesmo assim, já mexiam com a percepção de realidade das pessoas. Em “A Chegada do Trem na Estação” (1895), por exemplo, reza a lenda que as pessoas saíram correndo quando o trem encheu a tela de projeção, acreditando que seriam atropeladas.
A Chegada do Trem na Estação (1895), dos irmãos Lumière
Pouco tempo depois, os primeiros realizadores perceberam que poderiam parar a filmagem por um determinado tempo e depois voltar a filmar, assim como poderiam juntar vários pedaços diferentes de película de forma a elaborar uma narrativa com imagens em movimento. Assim, era descoberta a montagem e, com ela, todo um novo mundo de possibilidades: histórias começaram a ser contadas através das imagens em movimento. Em A Invenção de Hugo Cabret (2011), um dos personagens diz: "O que começou como uma atração de circo logo se transformou em algo a mais, quando os primeiros cineastas descobriram que podiam usar a nova mídia para contar histórias". Georges Méliès foi um desses primeiros cineastas.
Georges Méliès, um ilusionista parisiense, encontrou no Cinema uma nova ferramenta para deixar ainda mais fantásticas suas apresentações, criando histórias curtas, com personagens fantásticos e truques que impressionavam sua audiência. Sua paixão e produção de filmes eram tamanhas que é considerado o primeiro criador de um estúdio cinematográfico. Seu filme mais famoso e que rende referências e homenagens até os dias de hoje, é Viagem à Lua, de 1902, inspirado na obra de Júlio Verne e H. G. Wells. Nele, vemos uma história sendo contada e muitos efeitos especiais. Ainda, de Hugo Cabret (2011): "Méliès foi um dos primeiros a se dar conta de que os filmes tinham o poder de capturar sonhos".
Viagem à Lua (1902), de Georges Méliès
E, desde então, o Cinema não parou mais.
A seguir colocamos para vocês o famoso Viagem à Lua, em uma versão rara, colorida à mão, dada por perdida, mas que foi encontrada em 1993, tendo sua restauração concluída apenas em 2010! Colocamos também alguns links para assistir mais filmes de Georges Méliès.
Uma Noite Terrível (Une Nuit Terrible, 1896)
O Homem Com a Cabeça de Borracha (L'homme à la Tête en Caoutchouc, 1901)
O Monstro (Le Monstre, 1903)
A Conquista do Polo (À la conquête du pôle, 1912)
Foram apenas alguns exemplos, porque Méliès fez MUITOS filmes! O IMDB contabiliza 532 filmes creditados a ele entre 1896 e 1913. A Conquista do Polo é um de seus últimos filmes. Caso queira saber mais e dar uma olhadinha na página do IMDb sobre Georges Méliès, basta clicar aqui!
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