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Alfred Hitchcock: O Mestre do Suspense


Alfred Hitchcock, também conhecido como o Mestre do Suspense, é um dos cineastas mais conhecidos e aclamados, sendo eleito*, em 2002, o segundo maior diretor da História do Cinema, ficando atrás apenas de Orson Welles. Além de ser um dos responsáveis pelo surgimento do gênero de suspense no Cinema, Hitchcock também foi responsável por muitas inovações na indústria cinematográfica, seja em soluções de roteiro, linguagem cinematográfica, técnicas e recursos de filmagem, e até mesmo fora das telas, com todas as campanhas publicitárias dos seus filmes e até dele mesmo. Ao longo de suas quase 6 décadas de carreira, fez mais de 50 filmes do gênero de suspense e influenciou uma infinidade de obras posteriores, dentro e fora das telonas. Mas, nem sempre Hitchcock foi considerado um dos nomes mais importantes do Cinema.

*pesquisas da Sight & Sound e do British Filme Institute


O INÍCIO

Falar de Alfred Hitchcock é quase como contar a história do próprio Cinema. Hitchcock nasceu quase na virada do século XX, na Inglaterra, em 13 de agosto de 1899. Seria perfeito para o Mestre do Suspense se 13/08/1899 tivesse caído em uma sexta-feira, mas era um domingo. Quando criança, teve uma educação muito rígida, rigorosa e cheia de punições, permeada sempre pelo medo, elementos esses que anos depois o cineasta exploraria em seus filmes.


Começou a trabalhar no Cinema muito cedo, já em 1919, mas como designer de intertítulo (lembrando que o Cinema ainda era mudo nessa época). Antes disso, chegou a trabalhar em uma agência de publicidade como copywriter, o que com certeza influenciou bastante seus trabalhos futuros. Poucos anos depois já estava fazendo seus próprios filmes, sendo seu primeiro sucesso O Inquilino (The Lodger: A Story of the London Fog), em 1927, filme que já trazia muito do gênero de suspense, que Hitchcock ajudou a conceber. Em 1929 realiza Chantagem e Confissão (Blackmail), considerado o primeiro filme britânico falado.


Ainda na Inglaterra, Hitchcock começa a colocar em seus filmes elementos que posteriormente serão suas marcas registradas, como suas aparições nos próprios filmes, o que ficou conhecido como cameo (em português, camafeu). Seu primeiro cameo foi em 1927, no filme O Inquilino. O sucesso da brincadeira era tamanho que o diretor teve que começar a colocar suas aparições logo no início dos filmes, para que os espectadores não ficassem distraídos tentando achá-lo e perdessem partes importantes das tramas.


Em 1935, Hitch usa o MacGuffin pela primeira vez em Os 39 Degraus (The 39 Steps). MacGuffin é um recurso de roteiro, que funciona como uma desculpa que motiva os personagens a desenvolver a trama, mas que no final das contas acaba não tendo tanta importância assim. Um bom exemplo de MacGuffin é o dinheiro roubado em Psicose: é a motivação para que a trama se desenvolva até a famosa sequência do chuveiro. Mas, depois disso, ninguém nem se lembra do dinheiro. Outro recurso de roteiro que também começou a ser desenvolvido ainda na Inglaterra foi o “suspeito inocente”, o homem que está no lugar errado, na hora errada e é acusado injustamente, acabando por ter que provar sua inocência, perseguindo o verdadeiro culpado.


ESTILO HITCHCOCKIANO

Hitchcock continuou fazendo filmes de sucesso na Inglaterra e, como não poderia deixar de ser, foi notado por Hollywood e convidado por David O. Selznick (produtor de …E O Vento Levou) a mudar-se para os EUA, no final da década de 1930. O primeiro filme de Hitch nos EUA é Rebecca, A Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940), que teve 11 indicações ao Oscar em 1941 e ganhou o Oscar de Melhor Fotografia e o Oscar de Melhor Filme. Ou seja, já chegou chegando!


Em Hollywood, Hitch seguiu aprimorando sua própria linguagem cinematográfica, que acabou sendo conhecida como “estilo hitchcockiano”, com movimentos de câmera que colocam o espectador sob o ponto de vista do olhar de um personagem, que acompanha absolutamente tudo que está acontecendo, mas não pode interferir, gerando assim um sensação de impotência extrema, ao mesmo tempo que muita ansiedade e até medo. Além disso, fazia experimentações e inovações técnicas nas posições e movimentos das câmeras, elaboradas edições, efeitos de iluminação e trilhas sonoras marcantes, tudo para potencializar as sensações de apreensão e suspense. Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) é um exemplo clássico do estilo hitchcockiano: o personagem interpretado por James Stewart, durante a maior parte da trama, é a representação exata dos espectadores dos filmes do diretor e de todas as emoções pelas quais passam, em um lugar que ao mesmo tempo é bem próximo, quase íntimo (o voyeur), mas que também não tem poder de interferência.


O Mestre do Suspense fazia tanto sucesso nas telonas que não demorou a ser convidado para trabalhar também na televisão, no programa “Alfred Hitchcock Apresenta”. Hitch dirigia e apresentava episódios de suspense de 30 minutos, sempre com muita pitada de humor negro, que era outra de suas características marcantes. O programa ficou no ar de 1955 a 1965, teve 17 episódios e fez bastante sucesso, o que só contribuiu para aumentar ainda mais a popularidade do cineasta.


PSICOSE E A INVENÇÃO DO MARKETING NO CINEMA

Em 1960 Hitchcock revolucionou mais uma vez, não apenas o próprio gênero de suspense e terror, mas também o marketing na indústria cinematográfica e até mesmo o comportamento dos espectadores nas salas de cinema. Tudo isso com um único filme: Psicose (Psycho).


Para início de conversa, o cineasta desafiou a censura da época, colocando mais cenas de “sexo” e violência no filme que o aceitável. Depois disso, começou a incrível - e nunca vista anteriormente - campanha de marketing e divulgação do filme. Psicose é baseado no livro homônimo de Robert Block. Hitchcock, além de comprar os direitos do livro, comprou todas as cópias que encontrou em livrarias, para evitar que as pessoas lessem e soubessem sobre o filme com antecedência. Além disso, não exibiu o filme primeiro para os críticos, como é o usual, e os mesmos tiveram que assistir junto com os demais espectadores “comuns”. Também não deu entrevistas sobre a história do filme, assim como proibiu os atores do filme a darem entrevistas também. E, por fim, enviou aos cinemas um manual com instruções específicas de como o filme deveria ser exibido e divulgado, incluindo a regra de não admitir que ninguém entrasse ou saísse da sala de exibição após o início do filme e ter também uma equipe de seguranças à mão, o que só enfatizava mais e mais o conteúdo chocante de Psicose! Ah! Outra regra importantíssima também era anunciada em cartazes, nas entradas dos cinemas: se você já assistiu ao filme, NÃO conte o final para os outros! Campanha anti-spoilers desde 1960! Hitchcock era dos nossos! rs


Todas essas regras e todo esse marketing cuidadosamente elaborado tiveram resultados mais que surpreendentes. Hitch conseguiu mudar a forma como as pessoas assistiam a filmes no cinema. Antes, as salas de cinema passavam os filmes sem uma agenda de programação. Assim, as pessoas chegavam ao cinema, compravam seus ingressos para o filme que queriam assistir e entravam nas salas de exibição. As exibições não tinham horários pré-definidos, ou seja, você podia entrar na sala de exibição às 15h e o filme já estar na metade. Mas o comum era que você simplesmente sentasse, assistisse ao filme do meio até o final e depois permanecesse na sala, porque a exibição do filme começaria de novo, e ai sim você conseguiria assistir ao início. Surreal, né? Hitchcock percebeu que para Psicose isso seria impossível, uma vez que o ponto de virada mais marcante do filme acontece logo em seu início e muda a trama totalmente de direção! Dessa forma, era imprescindível que as sessões para Psicose tivessem horário de início pré-definido. Tudo isso para preservar a grande surpresa do filme. As ousadias deram mais que certo: todo mundo queria assistir ao filme, as filas dobravam quarteirões e as pessoas gritavam nos cinemas ao longo das exibições.


SPOILER: E isso sem contar a ousadia suprema de Hitchcock de matar a atriz principal logo no início do filme!


HITCHCOCK/TRUFFAUT: ENTREVISTAS

Hitchcock provou, mais uma vez, o quão genial era, em todos os aspectos. Mas não foi o suficiente para que os críticos norte-americanos o considerassem um dos maiores cineastas que o Cinema já teve. Sinal disso é que até chegou a concorrer 5 vezes ao Oscar de Melhor Diretor, mas nunca ganhou. Não era considerado um direto “sério”, muito por preconceito dos críticos com a temática de seus filmes. Afinal de contas, muitos até hoje consideram suspense e terror gêneros “menores”. Assim, eram comum que ele fosse considerado um cineasta mediano e comercial (principalmente pela popularidade de seus filmes e sua própria popularidade). Hitch só foi finalmente elevado ao status de Mestre do Suspense e reconhecido como figura essencial na História do Cinema, quando François Truffaut, diretor francês da Nouvelle Vague e um dos editores da influente revista crítica francesa Cahiers du Cinéma, propôs ao cineasta uma série de entrevistas.


Truffaut sempre admirou Hitchcock e não aceitava nem entendia o porquê dos críticos norte-americanos não pensarem o mesmo. A proposta das entrevistas era justamente mudar a opinião desses críticos. O que ele conseguiu, claro e também acabou a prendendo muito sobre Cinema nessas conversas.


As extensas entrevistas, realizadas entre as décadas de 1950 e 1960, foram compiladas em um livro, “Hitchcock/Truffaut: Entrevistas”, publicado pela primeira vez em 1967. O livro é fundamental para quem estuda Cinema ou para quem ama a Sétima Arte. É uma grande aula, do início ao fim, sobre todos os aspectos de se fazer um filme e também sobre toda a genialidade do cineasta. Hitchcock fala sobre sua produção, desde seu início no Cinema, quando os filmes ainda eram mudos e fala como foi sua transição primeiro para o Cinema Sonoro, depois para o Cinema Colorido, já em Hollywood. Conta como concebe cada um dos seus trabalhos, como elabora seus roteiros, como fez experimentações de técnicas e como era sua relação com os atores. Ou seja, fala sobre tudo e, como dissemos lá no início do nosso texto, é como se estivéssemos lendo mais que a história do cineasta: é um viés da própria História do Cinema.

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