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Boa Vizinhança!

Carmen Miranda, Zé Carioca e a exploração da imagem do Brasil em Hollywood


Semana que vem é Carnaval! Polêmicas à parte sobre se vamos ou não ter Carnaval por causa da pandemia, fato é que o feriado taí!


Aproveitamos a deixa para conversar um pouquinho sobre como o Brasil é conhecido no exterior através do Carnaval, principalmente nos EUA, no episódio desta semana do podcast.



Quando pensamos em fantasias clássicas femininas de Carnaval, lembramos logo de baianas e, consequentemente, de Carmen Miranda. Pelo menos nas décadas de 1980 e 1990, quando fomos crianças, a fantasia era bem comum entre as meninas! Saia de babados, blusa ombro a ombro com mangas bufantes, brincos gigantes, muitas pulseiras e um turbante ou uma cesta de frutas na cabeça e sua fantasia de Carmen Miranda está mais que pronta! Mas essa imagem - muitas vezes caricata e estereotipada de Carmen, não ficou gravada só no imaginário dos brasileiros não! Foi através de Carmen Miranda que muitos outros países, principalmente os EUA, ficaram com essa imagem e representação do Brasil, a República das Bananas! Mas para entendermos como isso aconteceu, precisamos voltar um pouquinho na História, tanto para contar quem foi Carmen Miranda e como ela ficou tão famosa no exterior e também qual era o contexto histórico da época. Vamos lá?



Começamos com Carmen Miranda, na verdade Maria do Carmo Miranda da Cunha, nascida em Portugal, em 09/02/1909! Isso mesmo! Uma das brasileiras mais conhecidas no exterior não é brasileira! Rs! Mas os pais de Carmen vieram para o Brasil quando ela tinha menos de 1 ano de idade, então o fato de ter nascido em Portugal realmente é só um mero detalhe! O apelido, Carmen, ganhou de um tio, que era um grande fã de óperas. Ou seja, a menina já estava meio que pré-destinada à música desde muito cedo! Carmen começou a cantar desde muito nova, dizem que por influência de sua irmã mais velha, Olinda, e gravou seu primeiro álbum em 1929. Era conhecida como “A Pequena Notável’, porque tinha apenas 1,52m. A gravação, em 1930, da música Ta-hí (Pra Você Gostar de Mim) levou Carmen ao sucesso no Brasil, sendo considerada a principal intérprete de samba no país naquela década. O sucesso foi tamanho que ela foi a primeira mulher a assinar um contrato com uma rádio no Brasil, a Rádio Mayrink Veiga. Fazendo tanto sucesso nas rádios, é fácil entender como rapidamente Carmen Miranda começou a participar dos filmes musicais carnavalescos feitos no Brasil na época! Mas como ela foi parar nos filmes musicais nos EUA? Vamos deixar a história de Carmen em stand-by um pouquinho e falar sobre o que estava acontecendo nos EUA nessa mesma época!



No episódio da semana passada, falamos um pouquinho sobre os primeiros anos do Cinema. Inventado em 1895 pelos Irmãos Lumière, rapidamente o Cinema ganhou mundo e foi se desenvolvendo, tanto em tecnologia quanto em linguagem, através dos anos. A música esteve presente no Cinema quase desde sua criação; porém, na época do Cinema Mudo, os filmes eram acompanhados por um pianista (ou por uma pequena orquestra) que tocava ao vivo enquanto as imagens iam passando na tela. Assim, a evolução para um Cinema de fato sonoro era apenas uma questão de tempo e, em 1927, temos o lançamento de O Cantor de Jazz, considerado o primeiro filme com som.


Cantando na Chuva, filme musical de 1952, mostra bem como foi a transição do cinema mudo para o sonoro. As dificuldades técnicas no início eram bastante limitantes e os filmes sonoros acabavam sendo um compilado de cantores interpretando músicas, acompanhados de números de dança, com pouco ou nenhum diálogo entre essas músicas.


Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, 1952), dirigido por Gene Kelly e Stanley Donen; escrito por Betty Comden e Adolph Green

Desde o início, o gênero musical teve um forte apelo ao escapismo, principalmente nos anos que se seguiram à grande depressão de 1929 dos EUA - época que ficou conhecida como “Era de Ouro dos Musicais” e que durou até o final dos anos 1960.


Bom, então já conseguimos saber como anda o Cinema no mundo na década de 1930, quando Carmen Miranda estourou como cantora no Brasil. E mais um fator histórico foi importante para o sucesso da Pequena Notável nos EUA, a chamada Política da Boa Vizinhança.


A Política da Boa Vizinhança foi uma iniciativa política implementada nos Estados Unidos, durante os governos de Franklin Delano Roosevelt, ou seja, de 1933 a 1945. Tratava-se de uma estratégia de aproximação dos EUA com os países da América Latina, para evitar uma possível aliança com a Alemanha. Temos que lembrar que o mundo já tinha passado pela Primeira Guerra Mundial e estava sob a ameaça do avanço da Alemanha e uma iminente Segunda Guerra. Então, nessa época, os EUA colocaram de lado a política intervencionista que adotavam com os países da América Latina e passaram a adotar negociações diplomáticas, além de colaboração tanto econômica quanto militar. Fazia sentido tanto politicamente quanto economicamente. Politicamente, como já mencionado, para permanecer como potência nas Américas e frear os avanços das políticas fascistas européias (lembrando que alguns governos latino-americanos flertavam com essas políticas); e economicamente como parte das estratégias para recuperação do país após os efeitos da crise de 1929.


Serenata Tropical (Down Argentine Way, 1940), dirigido por Irving Cummings, escrito por Darrell Ware, Karl Tunberg e Rian James

Foi justamente nesse cenário de pós-depressão + escapismo da realidade através dos novos filmes musicais + Política da Boa Vizinhança que a fama de Carmen Miranda teve grande incentivo e cresceu bastante, representando a música e a cultura brasileira nos EUA, participando de vários filmes, sendo o primeiro deles em 1940, Serenata Musical. Carmen chegou a ser a mulher mais bem paga de Hollywood nessa época e foi a primeira “sul-americana” (entre aspas, porque na verdade era portuguesa) a ter uma estrela na Calçada da Fama. Entretanto, nem tudo eram flores: Carmen Miranda sempre sofreu críticas severas por sua influência na “americanização” do Brasil e difusão do estereótipo de “República das Bananas”.


Mas não foi só Carmen Miranda e sua “excentricidade” que representaram o Brasil nos EUA não só nessa época, mas desde então. Estamos falando de Zé Carioca, o simpático papagaio criado por Walt Disney em 1941.



Assim como Carmen Miranda, Zé Carioca também é um estereótipo brasileiro, do “malandro carioca”, que gosta de samba, tem um “jeitinho” para tudo e é meio avesso ao trabalho. Zé Carioca foi criado pelo próprio Walt Disney, quando esteve no Brasil em 1941 a pedido de Roosevelt e ficou hospedado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Durante sua viagem ao Brasil, Disney recebeu de presente do cartunista J. Carlos o desenho de um papagaio abraçando Mickey Mouse, e dali surgiu a ideia de criar um personagem brasileiro para contribuir com a Política da Boa Vizinhança.


Desta visita à América Latina saiu o filme Alô, Amigos, dividido em quatro segmentos. O último, chamado Aquarela do Brasil, foi a introdução de Zé Carioca às telonas. Nele, o simpático papagaio conhece o Pato Donald e o apresenta ao Brasil, à cachaça e ao samba. Alô, Amigos foi lançado em 24 de agosto de 1942, no Rio de Janeiro.


Alô, Amigos (Saludos Amigos, 1942)

Em 1944, Zé voltou ao cinema em Você Já Foi à Bahia?. Apesar do título tendencioso em português, a Bahia figura apenas em uma das três partes do longa: Pato Donald recebe um livro de presente de Zé Carioca que conta um pouco sobre a cidade de Salvador. Bahia também conta com a participação de ninguém menos que Aurora Miranda, irmã mais nova de Carmen.


Esse segundo filme se tornou um importante marco para a filmografia da Disney e virou até uma atração no pavilhão do México no Epcot, um dos parques do Walt Disney World, na Flórida. Zé Carioca virou um personagem icônico da marca e um "brasileiro" famoso.


Você Já Foi à Bahia? (The Three Caballeros, 1944)

Carmen e Zé foram os mais importantes representantes da cultura brasileira em Hollywood, mas não foram os únicos vínculos do Cinema com o Brasil. A cidade do Rio e o Brasil em geral foram cenário de diversos filmes importantes da época, como Voando Para o Rio (filme que marca o início da prolífica parceria entre Fred Astaire e Ginger Rogers, que durou dez filmes) e Interlúdio, de Alfred Hitchcock.


Acrobacias aéreas sobre o Rio em Voando Para o Rio (Flying Down to Rio, 1933) | Cary Grant e Ingrid Bergman em Interlúdio (Notorious, 1946)

Gostou do assunto? No episódio #02 do podcast dissertamos mais a respeito!


Ginger Rogers e Fred Astaire dançando "The Carioca" em Voando Para o Rio

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