top of page
  • Writer's pictureA Tela Que Habito

Dahmer: Um Canibal Americano

True Crime nunca esteve tanto em voga. Ia falar “na moda”, mas não achei de bom tom e é justamente uma das maiores críticas que Dahmer: Um Canibal Americano, minissérie da Netflix em 10 episódios, vem recebendo. A minissérie é baseada na história de Jeffrey Dahmer, um serial killer norte-americano que matou 17 pessoas (até onde sabemos), em sua maioria homens, homossexuais, pretos ou pardos, sendo alguns deles, inclusive, menores de idade. Ao longo dos episódios é contato sobre o modus operandi do assassino e como ele foi sendo desenvolvido e “aperfeiçoado”, misturando ficção e fatos.



O interessante (na opinião da Lorys, amante confessa de true crime e de qualquer outro tipo de produção que envolva crimes) é que o foco não é só em Dahmer, sua família, vítimas e pessoas que conviviam com ele também são humanizadas e acabamos nos envolvendo - e sofrendo - mais com tudo o que aconteceu. As críticas partem principalmente dos familiares das vítimas, que alegam não terem recebido qualquer contato da Netflix antes, durante e depois da produção, além de não verem sentido em tocar em feridas que nunca chegaram nem perto de serem fechadas. Críticas totalmente compreensíveis e bastante razoáveis.



Entretanto, a minissérie aborda uma questão de extrema importância, que vai além dos crimes de Dahmer. Sim, ele matou várias pessoas e fez coisas horríveis com elas. Mas o pior de tudo é saber que ele poderia ter sido impedido há muito mais tempo e várias das vidas perdidas poderiam ter sido poupadas. Pela parte da família, vemos um preconceito gritante com doenças mentais e uma falta de diálogo absurda. Geralmente, serial killers tiveram infâncias conturbadas, traumáticas e violentas. Com Dahmer não foi diferente, mas a violência familiar, em seu caso, era a ausência e a negação. Um pouco (mentira, muito) da famosa máxima: “o pior cego é aquele que não quer ver”.



Pela parte da sociedade e da polícia, o racismo e a homofobia que permitiram que as vítimas (como dito anteriormente, homens, homossexuais, em sua maioria pretos e pardos e de um bairro mais popular/pobre) não recebessem a devida atenção e investigação, além de muitas terem sido silenciadas. Sim, porque Dahmer não era daqueles serial killers geniais que vemos muitas vezes em filmes e séries. Ele era bastante limitado e desleixado até. Várias de suas vítimas conseguiram fugir e sobreviver. Uma delas, inclusive, chegou a denunciá-lo por tentativa de assassinato, mas nada aconteceu. Ah! Esqueci de falar, mas é meio óbvio, pelas imagens: Dahmer era um homem branco, loiro, até bem apresentável, morando num bairro de maioria preta. Complicado, para dizer o mínimo. Revoltante é a palavra mais adequada.



E temos a vizinha de Dahmer, representada na personagem de Glenda Cleveland (que é real, mas morava em outro prédio e não no apartamento logo ao lado), que por mais de um ano conviveu com os gritos e os odores vindos do apartamento do serial killer e que entrou em contato com a polícia várias vezes, mas ninguém nunca a ouviu e levou a sério. Nem consigo imaginar a culpa que essa mulher carrega - mesmo sem ter culpa de nada, claro - por todas as pessoas mortas logo ali, ao lado dela, e não ter sido capaz de ajudar. A sensação de impotência deve ser esmagadora.



E não tem como deixar de mencionar a brilhante atuação de Evan Peters como Dahmer. Chega a nos causar arrepios e me vi em vários momentos da minissérie prendendo a respiração, de tanta tensão, com medo do que estava por vir. Às vezes dava até vontade de gritar para a TV, para as vítimas: “não entre ai!”, “saia daí AGORA!”. Li em algum lugar no instagram alguém comentando que “Dahmer: Um Canibal Americano” não prometeu nada e entregou tudo e é essa a sensação que temos mesmo.



É uma minissérie que aborda mais que os assassinatos e a psicopatia do assassino. Fala sobre abandono, silenciamento, outras doenças mentais, preconceito, racismo estrutural, homofobia, negligência policial e várias outras coisas que acontecem na vida e nos fazem pensar que o mundo está ao contrário e ninguém reparou. Apesar das críticas - válidas - ainda acredito que vale a pena ser vista, refletida e discutida.

Recent Posts

See All

2 Comments


ana.mars
Oct 01, 2022

Vivo dizendo que sou gêmea da Lorys em relação a visão e interpretação do mundo! Concordo em número, gênero e grau com tudo que foi dito nesse texto! Amo vocês meninas!

Like
A Tela Que Habito
A Tela Que Habito
Oct 02, 2022
Replying to

Oi Ana!! Lorys respondendo aqui! Muito bom ter gêmeas como vc, faz a gente se sentir no caminho certo! Muito obrigada pelo carinho! Então, vc tbm ficou revoltada? Eu ja sabia a história dos assassinatos do Dahmer, mas não sabia dessa parte dele ser totalmente deleixado e da polícia ter tido N oportunidades de detê-lo!

Like
Post: Blog2_Post
bottom of page