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  • Writer's pictureA Tela Que Habito

Protagonistas Disney x Protagonistas Miyazaki

Nos episódios 4 e 5 do A Tela Que Habito, falamos sobre representação das mulheres no Cinema. Esses episódios fazem parte da série especial “Mulheres no Cinema”, que ao todo teve 3 episódios até o momento. O episódio de hoje, sobre as protagonistas de Miyazaki e de Disney, também faz parte dessa série especial e vamos falar um pouquinho sobre pontos divergentes e convergentes das representações femininas nos filmes desses dois grandes nomes da animação.



Sempre comparam Miyazaki com Disney, dizendo que o animador é o "Disney Japonês". Hayao Miyazaki é um dos fundadores do maior estúdio de animação do Japão, o Studio Ghibli. Esse é um ponto em comum com a Disney, que é o maior estúdio de animação da indústria cinematográfica. Outro ponto em comum são filmes com protagonistas femininas. Entretanto, as semelhanças acabam ficando por ai. Além dos estilos de animação serem bem diversos, a questão cultural também reforça a diferença entre as produções de Disney e Miyazaki, assim como as escolhas narrativas e as motivações das protagonistas. E é sobre isso que vamos falar um pouquinho hoje.


Desde o princípio, os filmes de animação do estúdio Disney apresentam protagonistas femininas, mas normalmente donzelas, que precisam ser resgatadas pelo príncipe para serem felizes (Branca de Neve e Aurora de A Bela Adormecida literalmente são beijadas enquanto estão inconscientes. Aurora tem apenas 16 falas, apesar de ser a personagem-título do filme). Alice No País Das Maravilhas talvez seja a grande exceção nessa fase do estúdio.



A Disney ficou 30 anos sem fazer filmes de princesas, desde A Bela Adormecida, até começar sua Era de Renascimento com A Pequena Sereia, em 1989. Ariel já demonstra características mais modernas: é voluntariosa e corre atrás do seu próprio destino, ainda que esse destino seja o amor do príncipe Eric (e a vida na superfície que ela tanto amou), mas ela ainda precisa ser salva pelo pai, sacrifica a própria voz e precisa fazer o príncipe se apaixonar por ela para poder continuar no lugar onde escolheu morar.


A partir de então, as protagonistas da Disney passam a evoluir mais rapidamente com os tempos. Bela, de A Bela e a Fera, tem personalidade forte e sonha em viver grandes aventuras, troca de lugar com o pai para salvá-lo, mas acaba vítima da "Síndrome de Estocolmo", ao se apaixonar pela Fera. Ainda assim, temos uma evolução: Bela não é salva pelo príncipe, ele é que é salvo por ela.



Jasmin, de Aladdin, segue a onda das protagonistas teimosas e cheias de vontades, e se recusa a ter um casamento arranjado. Ela se apaixona pelo ladrãozinho Aladdin e tem que ser salva por ele? Sim, mas quem não se apaixonaria? Brincadeiras à parte, em 1992 as mocinhas ainda precisavam de par romântico - no caso, o protagonista é Aladdin, então o par romântico é ela.


Alguns anos depois, temos Mulan, que mudou o jogo. Sim, ela tem um final romântico, mas ela encara todos obstáculos praticamente sozinha (com ajuda de um dragão em miniatura e um grilo), luta na guerra e ainda salva a China toda. Somos fãs!


Depois de Mulan, a Disney ficou 11 anos sem lançar outro filme de princesa - adendo: Mulan não é princesa, mas ela entra na lista oficial de Princesas da Disney. Achamos justo porque ela é maravilhosa, melhor que quase todas as outras.



Em 2009, os tempos já são outros, e Tiana de A Princesa e o Sapo (a primeira princesa negra da Disney) é uma moça trabalhadora que sonha em empreender e abrir seu próprio restaurante. Ainda não tínhamos superado o par romântico nessa época, mas já evoluímos muito.


A primeira princesa a não ter uma história de romance foi justamente a primeira protagonista feminina da Pixar, Mérida, de Valente, em 2012. Super feminista, ela compete pela própria "mão" nos jogos promovidos pelo pai para arranjar um pretendente pra ela. Logo em seguida temos Anna e Elsa, de Frozen. Anna conhece um moçoilo e anuncia seu casamento para irmã, que diz imediatamente: "você não pode se casar com alguém que acabou de conhecer" - para o desespero de todas as outras princesas que vieram antes! No fim das contas, Anna encontra o amor, mas Elsa é uma mulher forte que não precisa de homem. E a lição central do filme, "o amor liberta", diz respeito ao amor sorório, entre irmãs.


Depois disso, com Moana, as protagonistas Disney se libertam de vez da necessidade de ter um homem! Além disso, Moana não segue o tipo físico "petite", tem um cabelão perfeito (assim como Merida) e é a primeira protagonista nativa do sul-pacífico da história da Disney. Também som fãs!



Hayao Miyazaki começa a fazer animações no Japão no final da década de 1970 e, embora seu primeiro filme não tem uma protagonista feminina, seu segundo filme, Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no tane no Naushika, 1984), traz como protagonista uma jovem adulta, princesa de seu povo, em um mundo praticamente distópico, Nausicaä tem que evitar uma guerra entre dois reinos vizinhos ao dela, para que o mundo não seja ainda mais destruído do que já está. Além disso, a natureza também faz sua contraposição aos humanos, expandido suas áreas tóxicas para cada vez mais perto dos reinos e é também Nausicaä a responsável por tentar restabelecer o equilíbrio.



Em 1985 O Studio Ghibli é criado e o primeiro filme de Miyazaki no estúdio é O Castelo no Céu (Tenkû no shiro Rapyuta, 1986). A protagonista é Sheeta, uma adolescente por volta dos 13 anos de idade. Sheeta é a princesa do Castelo no Céu (Laputa), uma civilização extinta pela guerra. Agora, outra nação, interessada no poder bélico desenvolvido em Laputa, pretende usar Sheeta para chegar até lá. Mais uma vez o embate entre natureza e destruição pela guerra, com o elemento aéreo presente e a motivação da protagonista em equilibrar as duas forças. Temos o personagem Pazu, o garoto que ajuda Sheeta a evitar uma nova guerra e temos também Dola, a chefe dos piratas. Ou seja, duas mulheres em posição de destaque e controle, com os homens como coadjuvantes e facilitadores no alcance do objetivo das protagonistas.


Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro, 1988) talvez o filme mais infantil de Miyazaki. As protagonistas são as irmãs Mei (4 anos) e Satsuki (11 anos) e o filme traz a questão da natureza e de seus habitantes fantásticos como uma espécie de fuga da realidade (a mãe das meninas está internada, doente). É inspirado na infância de Miyazaki (a mãe sofreu com tuberculose durante 9 anos e passou muito tempo internada). Curiosidade, de onde surgiu o nome Totoru: Mei queria dizer que viu um troll (a pronúncia em japonês é tororu), mas, como é pequena e fala errado, falou totoro. Outra curiosidade: as irmãs Dakota e Elle Fanning fizeram as vozes das irmãs em 2005 e foi o primeiro filme de Elle.


Em O Serviço de Entregas da Kiki (Majo no takkyûbin, 1989), Kiki tem 13 anos e é uma jovem bruxa que vai morar sozinha e tem que se virar. Resolve trabalhar com entregas. Não temos o elemento de guerra aqui, nem homem x natureza, mas temos mais uma vez os elementos aéreos e a protagonista responsável por suas escolhas e por seu destino.



San, de Princesa Mononoke (Mononoke-hime, 1997), é sem dúvida alguma a protagonista mais forte de Miyazaki, criada por uma tribo de deuses-lobos, vive na floresta com eles e é capaz de qualquer coisa para defender seu território, quando mineiradores de ferro ameaçam aumentar sua área de extração, invadindo a floresta. O conflito entre homem x natureza é mais uma vez explorado, através de protagonistas femininas fortes, representando cada um dos lados, em busca de seus objetivos.


Em A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no kamikakushi, 2001), a protagonista feminina, Chihiro, é uma criança de apenas 10 anos, que se vê presa em um outro mundo, no qual precisa sobreviver e, ao mesmo tempo, salvar seus pais e o jovem Haku. Chihiro não é uma princesa e, apesar de não ser destemida como as demais protagonistas de Miyazaki (inclusive ela é bem medrosa), ela sabe que muitas coisas importantes dependem dela e que ela não pode desistir, tem que seguir em frente, mesmo com medo.



Sophie, uma jovem de 18 anos, é amaldiçoada por uma bruxa e vira uma velha, em O Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro, 2004). Até o momento, é o único filme de Miyazaki que traz o fator romântico: a protagonista se apaixona por Howl, o dono do Castelo. Embora esteja apaixonada e queira livrar Howl de sua maldição (sim, ele também foi amaldiçoado), Sophie não desiste de quebrar sua própria maldição e voltar a fazer o que sempre amou: chapéus!


E, se até agora, as protagonistas de Miyazaki se diferem bastante das protagonistas da Disney (talvez Mulan, Merida e Moana sejam as mais próximas), em Ponyo: Uma Amizade Que Veio do Mar (Gake no ue no Ponyo, 2008), temos a protagonista Ponyo, um peixinho-dourado do mar, filha de um cientista e da Deusa do Mar, que foi inspirada em Ariel, de A Pequena Sereia! Ponyo tem apenas 5 anos, mas é determinada desde sempre. Ela resolve sair da redoma na qual vive com suas irmãs para conhecer a vida fora do mar. Apesar de termos o personagem de Sosuke, um garotinho que Ponyo diz amar, a motivação da personagem é viver em um mundo diferente do seu e está disposta a arriscar muito por isso (assim como Ariel). Além disso temos também Lisa, a mãe de Sosuke, que praticamente é uma mãe solo, já que o marido é marinheiro e passa a maior parte do tempo no mar. Ou seja, mais uma vez os personagens masculinos são coadjuvantes e ficam em segundo plano.



E é isso! Ao todo, Hayao Miyazaki tem 11 filmes, sendo que apenas 3 deles não tem protagonistas femininas, assim como nas animações da Disney, que temos várias princesas. É importante destacar que sim, as protagonistas de Miyazaki parecem mais fortes e determinadas que as da Disney, levantando questões importantes do universo feminino, mas temos que levar em consideração também o contexto no qual as princesas da Disney foram criadas. A primeira princesa da Disney é Branca de Neve, de 1939 e a primeira protagonista de Miyazaki (que também é uma princesa), Nausicaä, é de 1984. São muitos anos de diferença e muita coisa mudou durante esse tempo. Se observarmos as atuais princesas e demais protagonistas dos filmes da Disney, podemos perceber que elas apresentam sim vários pontos consoantes com as protagonistas de Miyazaki.


Depois disso tudo, a pergunta é: com quais protagonistas você se identifica mais? Lembrando que não existe resposta certa ou errada! Os pontos de identificação são muito pessoais e subjetivos. Outra pergunta, pra dificultar mais: e qual a sua protagonista preferida? São duas coisas diferentes, heim? Conta pra gente!


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