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Representação Feminina nas Telas - Parte I


Continuamos com nosso especial sobre mulheres no Cinema. Neste episódio, falamos sobre como as mulheres são representadas no Cinema desde o seu surgimento até os dias de hoje e como quase sempre foram relegadas aos papéis de mocinhas e donzelas em perigo. Discutimos o conceito de OIhar Masculino x Olhar Feminino, a questão do etarismo e dos padrões de beleza que são reservados quase exclusivamente às mulheres e muito mais!

Meryl Streep em "Caminhos da Floresta" (Into the Woods, 2014), de Rob Marshall

No início do Cinema, lá no final da década de 1890 e início da década de 1900, os filmes eram ainda muito curtos e experimentais. O que se via eram vislumbres de personagens, mas nada ainda muito elaborado e desenvolvido. A partir do momento que há o desenvolvimento do que seria a linguagem cinematográfica, os filmes passam a contar histórias com narrativas mais elaboradas e com um maior cuidado na criação de personagens.


Hypocrites (1915), de Lois Weber, primeiro filme a apresentar nudez frontal feminina

Como já falamos em episódios anteriores e aqui no blog (se ainda não leu, aproveite para se inteirar do assunto), nos primeiros anos do Cinema os filmes eram muito experimentais e não era incomum vermos pequenas produtoras de filmes independentes, inclusive com presença expressiva de mulheres nos seus comandos e principais funções na realização de um filme, como direção e roteirização. Com isso, essas primeiras cineastas muitas vezes tinham personagens femininas fortes, independentes e determinadas em seus filmes e conteúdo LGBTQIA+, inclusive, não era um tabu.


Mas, a partir do momento que o Cinema passa a ser visto como um negócio lucrativo e vira uma indústria, com poucos e grandes estúdios tomando conta de tudo e com homens à frente desses estúdios, a participação das mulheres em filmes foi diminuindo cada vez mais, inclusive na frente das telas e, os poucos papéis que ainda restaram, eram os de dona de casa, mulheres submissas, mocinhas indefesas, donzelas aguardando serem salvas por homens e por aí vai.


Além do protagonismo feminino nos filmes nas décadas de 1930 em diante ter diminuído razoavelmente e dos personagens femininos nos filmes existirem basicamente em função dos homens, começa-se a observar uma outra questão que é extremamente problemática e digna de várias discussões: a questão etária dos personagens.


Gary Cooper e Audrey Hepburn em "Amor na Tarde" (Love In Afternoon, 1957), de Billy Wilder

A partir desta época, é mais comum vermos personagens femininas de 20 a 30 anos e poucas acima de 40 anos ou mais. Já os personagens masculinos geralmente tem 30 anos ou mais e está tudo bem. Além disso, passa a ser muito comum também casais com diferenças de idade gritantes. Em “Amor Na Tarde” (Love in The Afternoon, 1957), de Billy Wilder, Gary Cooper - o protagonista masculino - era 28 anos mais velho que Audrey Hepburn, a protagonista feminina. Até a sinopse do filme, no IMDb, já alerta para essa diferença: “a middle-aged playboy becomes fascinated by the daughter of a private detective who has been hired to entrap him with the wife of a client“ (um playboy de meia idade fica fascinado pela filha de um detetive particular, que foi contrato para apanhá-lo com a esposa de um cliente).


Em outro filme com também Audrey Hepburn, “Cinderela em Paris” (Funny Face, 1957), de Stanley Donen, Fred Astaire, seu par romântico, era 30 anos mais velho que ela. E olha que a atriz já tinha cara de ser mais nova do que realmente era e ainda a colocam para fazer par romântico com homens que tem décadas a mais que ela de idade. Não sei vocês, mas nós achamos meio absurdo, embora nessa época fosse sim mais comum um casal com a mulher bem mais jovem que o homem. Mas não é porque é comum que passa a ser 100% aceitável, a depender do caso.


Billy Cristal e Meg Ryan em Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro (When Harry Meet Sally..., 1989), de Rob Reiner

Em um exemplo mais recente, temos “Mansão Mal-Assombrada” (The Haunted Mansion, 2003), de Rob Minkoff: Marsha Thomason tinha apenas 26 anos à época e fazia o papel de mãe de duas crianças pré-adolescentes. Eddie Murphy, seu par romântico, tinha 42.


Outro exemplo meio absurdo é “Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro” (When Harry Meet Sally…, 1989), de Rob Reiner, Meg Ryan tinha 28 anos e Billy Crystal tinha 41, mas os personagens, no filme, tem a mesma idade! Ou seja, não obstante ter um par romântico mais de 10 anos mais velho, Meg ainda teve que passar por essa de ou ser considerada mais velha ou de Billy Crystal se passar por um homem mais jovem!


E aí entramos em uma outra questão: é comum vermos atores de 50 anos interpretando personagens de 50 anos ou até mais, numa boa! Mas existe uma pressão estética absurda para que mulheres de 50 anos interpretem personagens de 40 anos, 30 e poucos anos, porque Hollywood não tem tanto espaço assim -nem personagens - para atrizes que, obviamente, como todos os seres humanos vivos, estão envelhecendo. Enfim, pequeno desabafo.


Essa questão é tão séria e problemática que, em uma entrevista, Meryl Streep (aka uma das maiores atrizes da história do Cinema internacional e a mulher que tem o maior número de indicações ao Oscar, ou seja, não é uma atriz qualquer) diz ter sido procurada para fazer 3 filmes no papel de bruxa, quando tinha 40 anos, e recusou todos: “Não achei que era a hora certa, na época me incomodava ver as mulheres com mais idade serem consideradas feias e assustadoras. Continuo não gostando disso, mas esse filme é diferente", diz a atriz sobre “Caminhos da Floresta” (Into The Woods, 2014) de Rob Marshall, filme para o qual acabou aceitando o papel de bruxa, quando tinha 65 anos: “Aos 65 é apropriado interpretar uma bruxa".


Entrevista de Meryl Streep em "The Graham Norton Show"

Outro aspecto importante a se observar também, é a diferença entre como diretores e diretoras retratam as personagens femininas em seus filmes, o “olhar feminino” x “o olhar masculino”. Um bom exemplo para ilustrar o que estamos falando são os filmes “Esquadrão Suicida” (Suicide Squad, 2016), dirigido por David Ayer e “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” (Birds Of Prey: And The Fantabulous Emancipation Of One Harley Quinn, 2020), dirigido por Cathy Yan e que apresentam a mesma personagem, Arlequina, interpretada pela mesma atriz, Margot Robbie. Enquanto no filme de David Ayer a Arlequina é hipersexualizada, com roupas apertadas e curtas e muito decote, e com enquadramentos que potencializam a sexualização dessa personagem, que além de tudo é mal construída e aproveitada no desenvolvimento da história, sendo mais usada (sim, escolhemos essa palavra) como “atrativo” visual (e sexual), no filme de Cathy Yan a personagem ganha camadas, propósitos e motivações. Vemos ali uma mulher em busca de algo, não um pedaço de carne no açougue.


Arlequina em Esquadrão Suicida à esquerda e em Aves de Rapina à direita

Como se não bastasse as disparidades entre quantidade de personagens masculinos e femininos, entre as idades desses personagens e no olhar para esses personagens, temos mais uma disparidade gritante, porém considerando agora só os personagens femininos em filmes: a disparidade racial! Dentre os personagens femininos em filmes, a maioria absoluta é de mulheres brancas, deixando negras, asiáticas e latinas (além das demais etnias) em número bem menor (e às vezes quase inexpressivo). E nas premiações essa disparidade se perpetua. Halle Berry ainda é a única atriz negra a ganhar um Oscar de Melhor Atriz.


Halle Berry e seu Oscar de Melhor Atriz

Nas premiações de Melhor Longa de Animação no Oscar, infelizmente a história da falta de representatividade feminina também se repete: Brenda Chapman foi a primeira mulher a receber um Oscar de Melhor Animação (dividido com Mark Andrews) por Valente, de 2012; que também foi o primeiro filme da Pixar com uma protagonista mulher. Até 2022, apenas outros 2 filmes do estúdio tiveram protagonistas femininas (Divertida Mente de 2015 e Procurando Dory de 2016). Em março de 2022, a Pixar lança o quarto: Red: Crescer é uma Fera (11/03/22 no Disney+).


"Red: Crescer é uma Fera" (Turning Red, 2022), de Domee Shi

Espero que vocês estejam gostando do nosso especial sobre mulheres no Cinema! Seguimos falando sobre a representação feminina nas telas no episódio da semana que vem, com alguns números chocantes sobre as disparidades entre homens e mulheres nos filmes e mais um bocado de coisas! Até lá!



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